ABRIL LITERÁRIO: Caco Cioler, Zeide e a arte de escrever – Fundação "Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel" – Funap

ABRIL LITERÁRIO: Caco Cioler, Zeide e a arte de escrever

“A leitura tem o poder de levar a alma das pessoas para passearem fora de seus presídios íntimos”


Carlos Alberto Ciocler, mais conhecido como Caco, nasceu em 1971 na capital de São Paulo. Ator e diretor, ganhou fama ao aparecer em diversas novelas, peças de teatro, minisséries e filmes.

Desde pequeno já mostrava inclinação para o palco, no entanto, só entrou para o mundo das artes cênicas pouco antes de se formar como engenheiro químico, na Universidade de São Paulo. Contra gosto de seus pais, matriculou-se em um curso de artes dramáticas.

Sua primeira aparição na TV ocorreu em “O Rei do Gado” em 1996, por meio de um convite de Luiz Fernando Carvalho, o responsável pela direção da telenovela, que estava na plateia em uma das apresentações de Caco na peça Píramo e Tisbe.

Após se consagrar como ator, teve sua estreia no mundo da literatura em 2017, através de um convite da Editora Planeta, de lançar sobre ‘não autores’ o desafio de escrever sobre descendentes de imigrantes que vivem no Brasil.

Deste cenário nasceu a obra “Zeide: a travessia de um judeu entre nações e gerações”, que compõe o repertório de livros do Programa de Incentivo à Leitura – Lendo a Liberdade, iniciativa da Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” – Funap, com objetivo de incentivar a formação de leitores nas unidades prisionais de São Paulo.

Em entrevista exclusiva, o autor conta sobre suas raízes, como foi transitar entre as artes cênicas e a literatura, além de pensamentos sobre o sistema prisional.

De família judia, Caco acredita que Zeide é um livro muito afetuoso. A palavra zeide significa avô em iídiche, uma língua germânica das comunidades judaicas da Europa central e oriental. O romance conta a história de um ponto de vista ficcional sobre a trajetória de sua família, com enfoque em seu avô.

zeide Sucher veio da Bessarábia, como outros imigrantes na primeira metade do século passado. Com passagem pela Alemanha e sem poder ir ao Canadá, que fechara as portas aos imigrantes, rumou para o Brasil com dois irmãos.

Emocionado por seu livro ser lido por reeducandos, o autor espera que a história toque emocionalmente cada um dos leitores. “É uma honra saber que Zeide será janela para a alma de corpos encarcerados”. Pela história tratar de um homem foragido, obrigado a reconstruir sua vida do zero num país estranho, Caco tem certeza que a história traz reflexões importantes aos reeducandos: “Eu não consigo pensar em nada mais amoroso para um detento do que oferecer-lhe a possibilidade da leitura”.

Para a produção da obra, precisou resgatar lembranças de seus familiares, principalmente do pai, a fim de formar uma narrativa não linear que explicasse como as pessoas de sua família se tornaram quem são. E espera que, através dessas memórias, o leitor entre em contato com sua própria memória afetiva e sinta saudades de sua infância.

Embora já tivesse escrito peças de teatro anteriormente, Caco teve uma experiência totalmente nova com Zeide. Passava madrugadas escrevendo e só ia dormir quando ficava satisfeito. No dia seguinte, voltava a ler o que tinha escrito e reescrevia tudo novamente.

Confessa que a maior loucura foi tornar-se leitor de si mesmo: “Essa conversa esquizofrênica entre o eu escritor e o eu leitor foi a coisa mais maluca, desgastante e desesperadora que já passei na vida”. Após entregar a versão final, nunca mais teve coragem de ler o livro, por medo de querer mudar mais algo.

Antes do livro, as leituras de Caco eram sempre ligadas ao trabalho. Cada peça, filme ou novela exigia um repertório literário específico.

Após Zeide, além de se tornar mais exigente com o que consume, sente vontade de escrever mais. Porém, precisaria de uma janela em sua agenda para se dedicar exclusivamente à escrita de um novo livro. “Enquanto não vier uma proposta, não surgir uma boa ideia e não tiver espaço na agenda, acho que vou continuar me dedicando à leitura mais do que à escrita”.

Campanha Abril Literário

A leitura e a educação são vistas como agentes transformadores dentro da sociedade, elementos que constituem a cultura e uma civilização. Neste dia 23 de abril lembraremos o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor por meio da campanha Abril Literário. A ideia é entrevistar autores que são lidos no sistema prisional, na busca de mais visibilidade e valorização para as iniciativas pró-leitura para pessoas privadas de liberdade.

A Fundação ”Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” – Funap, órgão vinculado à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), incentiva a formação de leitores por meio do Programa de Incentivo à Leitura- ”Lendo a Liberdade”, política pública de Estado que articula projetos, com os mais de 100 Clubes de Leitura instalados em unidades prisionais paulistas.

Cada Clube de Leitura envolve, em média, 20 reeducandos. Em cada mês, o reeducando é convidado a ler um título, participar de debates sobre a obra com os demais membros e, ao final, desenvolver uma resenha crítica, que poderá render a remição da pena. Cada texto aprovado pode significar até quatro dias a menos no cárcere.

A ação é uma iniciativa desenvolvida pela Funap e SAP em parceria com a Academia Paulista de Letras (APL).

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