ABRIL LITERÁRIO: A autonomia no cárcere proporcionada pelos livros – Fundação "Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel" – Funap

ABRIL LITERÁRIO: A autonomia no cárcere proporcionada pelos livros

Galeno Amorim, jornalista e presidente da Fundação Observatório do Livro e da Leitura, fala sobre os benefícios da literatura


Galeno Amorim, nasceu em Ribeirão Preto, foi professor do curso de Jornalismo no município e atuou em veículos de comunicação como o jornal Estado de São Paulo, Rede Globo e Jornal da Tarde. Nesse período, ele conta que já nutria interesse pelos livros, especialmente os infantis. ”Daí para escrever literatura foi só um pulo”, afirma o autor. Atualmente, é presidente da Fundação Observatório do Livro e da Leitura.

Em 1998, Galeno organizou ”Carrasco de Goleiros”, livro que narra a trajetória do jogador de futebol Ronaldinho. Disponível nos Clubes de Leitura do Sistema Penitenciário, ele conta que o objetivo do livro era despertar a leitura em jovens que não gostam de ler, por meio de uma narrativa leve e cheia de curiosidades. 

Palavra Mágica e os Clubes de Leitura

Pensada em meados da década de 1990 e como uma divisão da Palavra Mágica, editora voltada à publicação de livros infantis, a Fundação Observatório do Livro e da Leitura atua no país nas áreas de Educação, Cultura e Tecnologia. Em 2015, foi criada uma área interna, o Instituto Palavra Mágica. Essa vertente possui parceria com a Fundação ”Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” – Funap no Programa de Incentivo à Leitura – ”Lendo a Liberdade”.

Em 2019, os Clubes de Leitura do convênio completam 10 anos e já foram realizados mais de 4 mil atendimentos neste primeiro trimestre. Com base nesses dados, Galeno afirma que é possível melhorar e aumentar os Clubes já existentes e implanta-los nas unidades prisionais que ainda não os têm. Para qualificar a ação, é necessário aprimorar o procedimento da remição de pena. Galeno afirma também que pretende realizar pesquisas quantitativas e qualitativas e implantar a metodologia da Biblioterapia, a qual consiste em uma terapia realizada com livros e alguns dos objetivos são ampliar as possibilidades de soluções para os problemas enfrentados, compreender melhor si mesmo e as reações dos demais e afastar a sensação de isolamento.

O número de atendimentos que os Clubes de Leitura apresentam só são possíveis porquê os participantes percebem que a leitura é capaz de mudar o modo de pensar e as atitudes. Além disso, coloca-os em um mundo paralelo proporcionando uma liberdade ainda não sentida, consequentemente outros detentos são atraídos para os encontros mensais do Programa. ”São vários benefícios simultâneos, sem contar a educação continuada que se dá o tempo todo, a ampliação do universo cultural e do conhecimento ou seu vocabulário, entre outros ganhosâ?”, explica Galeno acerca do poder emancipatório do livro.

Além disso, ao mesmo tempo que os reeducandos experimentam algo diferenciado, eles podem se sentir estimulados a tornarem-se escritores, pois os livros têm o poder de instigar a pesquisa, incentivar a escrita e evidenciar que ”qualquer leitor também é um escritor em potencial”. O autor exemplifica citando que em alguns lugares os leitores de ”Carrasco de Goleiros” foram incentivados a reescrever a obra atualizando informações e consequentemente creram que ”algo como aquilo eles também podem escrever ou ao menos tentar”. 

Leitura no Brasil

A 4ª edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, mostra que o analfabetismo funcional e o acesso aos livros são os principais motivos pelos quais a população brasileira não lê. Galeno acredita que criar projetos como os Clubes de Leitura, fazer campanhas, facilitar o acesso e o acompanhamento familiar e escolar são fundamentais para reverter a situação.

A mesma pesquisa demonstra que boa parte da população não lê por falta de tempo. Segundo ele, essa é a desculpa de muitos brasileiros, no entanto, as principais razões são a desvalorização do livro no país e o desinteresse. Para isso, ele diz às pessoas que sabem ler e não possuem o hábito da leitura, ”na medida em que nos conscientizarmos que os livros podem causar grandes transformações em nossas vidas, passaremos a dar mais prioridade a ele no nosso dia a dia”.

Esses índices refletem na convivência social. O discurso de ódio e de intolerância se tornaram frequentes e, muitas vezes, são causados por erros de interpretação ou de conhecimento. A respeito disso, Galeno acrescenta que ”há um bom tempo a leitura literária deixou de ser uma atividade para o ócio para se tornar algo imprescindível e fundamental – ou, como diria Antônio Cândido, um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos, o direito à literatura é um direito humano!”

Militante pela literatura, Galeno participou em 2018 do seminário ”Cidadania e Remição pela Leitura no Sistema Prisional”, evento desenvolvido pela Funap. Na ocasião, o autor reforçou a importância da literatura e os reflexos na reinserção social de pessoas privadas de liberdade. Na mesa de especialistas, estava presente além do escritor, Menalton Braff e Carlos Andrade, egresso do sistema prisional que testemunhou os impactos do Programa de Incentivo à Leitura – ”Lendo a Liberdade” em sua vida.

Campanha Abril Literário

A leitura e a educação são vistas como agentes transformadores dentro da sociedade, elementos que constituem a cultura e uma civilização. Neste dia 23 de abril lembramos o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor por meio da campanha Abril Literário. A ideia é entrevistar autores que são lidos no sistema prisional, na busca de mais visibilidade e valorização para as iniciativas pró-leitura para pessoas privadas de liberdade.

A Fundação ”Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” – Funap, órgão vinculado à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), incentiva a formação de leitores por meio do Programa de Incentivo à Leitura – ”Lendo a Liberdade”, política pública de Estado que articula projetos, como os mais de 100 Clubes de Leitura instalados em unidades prisionais paulistas.

Cada Clube de Leitura envolve, em média, 20 reeducandos. Em cada mês, o reeducando é convidado a ler um título, participar de debates sobre a obra com os demais membros e, ao final, desenvolver uma resenha crítica, que poderá render a remição da pena. Cada texto aprovado pode significar até quatro dias a menos no cárcere.

A ação é uma iniciativa desenvolvida pela Funap e SAP em parceria com a Academia Paulista de Letras (APL).

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